A matéria original foi publicada na Travindy Espanhol no dia 31/08/2018.
Tradução para o Portuguese por Clara Carybe.
O desenvolvimento regenerativo decorre da frustração causada pelo fato de que o movimento por um futuro mais sustentável não está funcionando, ou seja, não gera os resultados esperados.
A sustentabilidade tem como objetivo “sustentar”, ou seja, manter as coisas como elas são, ou não permitir que elas piorem para as gerações futuras. No entanto, a atividade humana está pressionando tanto as funções naturais da terra que a capacidade dos ecossistemas de sustentar as gerações futuras está se perdendo.
Mesmo que o conceito de sustentabilidade tenha evoluído com o passar dos anos, ao utilizar um enfoque reducionista que tenta resolver os problemas dentro do mesmo marco em que foram criados, esse paradigma continua excluindo os seres humanos ou até mesmo os colocando em oposição à natureza. A sustentabilidade tem se dedicado a minimizar os danos e a usar de forma mais eficiente os recursos, mas, embora isso retarde a degradação, não é uma mudança de rumo.
É imperativo que se tenha uma abordagem diferente para essa questão, uma abordagem que cause mudança de valores.
Desenvolvimento e design regenerativo
O desenvolvimento e design regenerativo não é uma tendência nova. Na década de 1990, o urbanista britânico Ebenzer Howard, depois Lewis Mumford, seguido por Patrick Geddes, divulgaram seu entendimento das cidades como organismos vivos. Ao mesmo tempo, o arquiteto paisagista John Tillman Lyle falava sobre o design regenerativo como um processo dinâmico de participação, feedback e constante mudança aceitando que ele reconecta o ambientalismo com a dimensão sociopolítica, numa época em que não se aplicavam esses conceitos a projetos isolados, mas a destinos como um todo e a paisagens.
O turismo regenerativo não rejeita, mas abraça o turismo sustentável e o aperfeiçoa desde a essência, partindo de uma mudança total de valores.
O desenvolvimento regenerativo oferece uma abordagem consistente para estabelecer a coevolução do homem com a terra e coloca a sustentabilidade no âmbito conceitual dos sistemas vivos e evolutivos. Em vez de apenas reverter a degeneração dos sistemas, essa visão tenta desenvolver a própria capacidade desses sistemas, tanto sociais quanto naturais, expressando seu potencial diversificado, complexo e criativo.
Partindo dessa visão, investigamos como os seres humanos podem participar dos ecossistemas através do desenvolvimento, criando saúde ideal para as comunidades humanas (física, psicólica, social, cultural e economicamente falando) e outros organismos e sistemas vivos.
Explicando de uma forma muito simples, o desenvolvimento regenerativo é o resultado esperado e o design regenerativo é o meio para alcançá-lo.
As dimensões do desenvolvimento regenerativo
O desenvolvimento regenerativo centra-se em três relações: eu comigo mesmo, eu com o outro e eu com a terra e tem foco no pensamento a partir da totalidade, também chamado “pensamento da totalidade”, conceito que parte do princípio de que fazemos parte de um todo e isso é muito importante que se entenda e interiorize para deixar para trás a visão fragmentada do mundo.
Um ponto muito importante da regeneração é que ela não fala de um objetivo idealizado, mas reconhece a necessidade do processo de evolução, tomando caminhos divergentes e convergentes de forma criativa e personalizada, sempre com base no lugar e nas suas necessidades.
Além dos fatores econômicos, sociais e ambientais no desenvolvimento regenerativo o aspecto cultural, político e espiritual é introduzido, sempre de maneira integral. É essencial que o planejamento seja feito a partir do local e com a participação de todos os atores identificando sua visão e desenvolvendo a identidade comunitária, além de analisar a história e a vocação do lugar, criando uma ética de cuidado e uma conexão com a sua essência.
Turismo regenerativo e a evolução do turismo sustentável
O turismo regenerativo não trata simplesmente de compensar os danos causados, nem cria apenas uma experiência vivencial para o visitante. O turismo regenerativo não afasta, e sim abraça o turismo sustentável e o aperfeiçoa desde a essência, partindo de uma mudança total de valores.
A mudança climática e a crise global estão nos gritando. Temos que voltar às raízes e trabalhar com a terra, reconectar-nos e ouvir.
Partindo dessa base, de um planejamento abrangente e evolutivo, a experiência final deve ser transformadora para o visitante e deve ser criada de tal forma que se estabeleça uma capacidade de carga estrita para garantir qualidade e limitar impactos. Criar uma conexão do viajante com o local para que ele fique submerso no ambiente natural e cultural, gerando uma profunda mudança na pessoa.
Esse trabalho profundo, realizado em um setor tão importante, pode trazer uma transformação muito benéfica para todos, incluindo visitantes, comunidades anfitriãs, empreendedores, empresas e, é claro, para o local. Já é tarde para reduzir ou manter. A mudança climática e a crise global estão nos gritando. Temos que voltar às raízes e trabalhar com a terra, reconectar-nos e ouvir.
Fontes:
Howard, P., Hes, D. & Owen, C (s.f.). Exploring principles of regenerative tourism in a community driven ecotourism development in the Torres Strait Islands. Faculty of Architecture Building and Planning, Melbourne University; School of Architecture and Design, University of Tasmania. From the proceedings of the World Conference SB08 – ISBN 978-0-646-50372-1.
Mang, P., Haggard, B. (2016). Regenerative Development and Design: a framework for evolving sustainability. Regenesis Group. Published by John Wiley & Sons, Inc.