A matéria original foi publicada na Travindy Espanhol no dia 28/09/2018.
Tradução para o Portuguese por Clara Carybe.
O povo Mapuche é nativo da região patagônica e já estava estabelecido naquele território antes mesmo de sua repartição entre Chile e Argentina. Com a divisão, a comunidade perdeu a identidade e o reconhecimento étnico.
Nas últimas décadas, como resultado da aquisição de grandes extensões de terra por empresários e multinacionais estrangeiros, o povo Mapuche viveu o extermínio de sua cultura, a assimilação forçada às culturas fronteiriças e a expropriação de seu território. Essa situação gerou conflitos raciais e territoriais.
Segundo a CNN latino-americana, “Uma das aquisições mais notáveis foi feita pelo empresário Carlo Benetton, membro da família da conhecida marca de roupas italiana, que comprou 900 mil hectares de terra (cerca de 132 vezes a área de Manhattan) no território da Patagônia argentina.”
O maior desafio para esse povo reside na dinâmica que existe entre o estado, as corporações privadas e as próprias comunidades que estão, na maioria dos casos, historicamente estabelecidas em diferentes estágios de poder. É essencial conhecer essa dinâmica para criar estratégias de ação eficazes para as comunidades indígenas.
O caso do povo Mapuche e seu papel no turismo também apresenta muitos outros desafios a serem superados. Seu território e cultura sofreram o que alguns autores chamam de “expansionismo turístico”, o uso indiscriminado do território para posterior exploração do turismo sem o envolvimento direto da população indígena no desenvolvimento da atividade.
A esse fenômeno devemos acrescentar também as políticas da administração dos parques acionais. Essas iniciativas do poder público substituem total ou parcialmente atividades tradicionais (agricultura e pecuária) pelo turismo, e afetam as comunidades que estão dentro da jurisdição dos parques. A substituição, quase sempre, acontece por exigência das agências estatais que impõem limitações legais ao desenvolvimento dessas atividades.
Enquanto tudo isso está acontecendo, as comunidades lutam por maior visibilidade como povo Mapuche e reivindicam o direito de ser os gestores e os principais agentes turísticos em seu próprio território. Como comunidade, o povo Mapuche quer fazer uso de seu território (atualmente administrado como parque natural) e ter o controle da atividade turística que está sendo desenvolvida ali.
No entanto, a realidade é que o povo Mapuche representa, em sua grande maioria, a mão de obra barata do setor turístico da província, não tem acesso a cargos importantes ou de gestão, representa o trabalho não qualificado de pousadas e hotéis e, claro, não consegue ascender a ponto de desenvolver projetos de turismo com base em sua perspectiva territorial e seus costumes. Não tem apoio financeiro ou técnico, nem os meios necessários para iniciar de forma correta esse tipo de projeto.
O desafio é garantir que o turismo seja para eles um elemento incentivador de sua cultura, suas tradições e sua identidade como população indígena. Mudar a perspectiva das administrações públicas e dos membros das instituições responsáveis a fim de encontrar uma alternativa viável e sustentável para que o território Mapuche possa ressurgir e obter identidade e reconhecimento como uma comunidade indígena original e única.
Fontes adicionais úteis:
Turismo comunitario en territorios conflictivos. El caso de las comunidades indígenas mapuche en la Región de los Ríos en Chile (M. Jeanette & P. Vera, 2015)
Expansionimo turístico, poblaciones indígenas Mapuche y territorios en conflicto en Neuquén, Argentina (S. Valverde, G. Maragliano & M. Impemba, 2015)
Conflictos por los recursos y el territorio en Patagonia norte. Un caso de estudio en un área adyacente al Parque Nacional Nahuel Huapi y la cuenca del río Ñirihuahu (Argentina) (G. Galafassi, 2011)