Como podemos compreender melhor os crescentes impactos econômicos, societários e ambientais da tecnologia e da inovação no setor do turismo? Essa foi a pergunta que a OMT fez em seu site para promover o Dia Mundial do Turismo em 27 de setembro. Em 2018, o tema de discussão é “O turismo e a transformação digital”.
O TripAdvisor tem uma média mensal de 455 milhões de visitantes únicos, todos procurando obter ideias de seus 661 milhões de comentários e opiniões. De acordo com Tnooz, 42% das histórias compartilhadas por usuários do Facebook foram sobre suas experiências de viagens. A era digital já transformou nossas experiências de férias, mas será que essa vasta e crescente massa de dados pode ser utilizada para algo mais que fazer reservas e compartilhar histórias de viagem em um post? Será que essa gama de informações pode tornar o mundo um lugar melhor?
A The Nature Conservancy está criando o Atlas da Riqueza dos Oceanos, um recurso online que combina as informações obtidas com a tradicional pesquisa acadêmica baseada em dados obtidos coletivamente na internet e nas mídias sociais. O objetivo é avaliar a contribuição econômica dos recifes de coral em diferentes países e assim oferecer incentivos para sua proteção. Ao mapear a localização dos hotéis em confronto com as fotos de um local, medir e comparar fotos de locais de mergulho e fotografias subaquáticas versus atividades turísticas que indiretamente se beneficiam da presença de recifes de corais, os pesquisadores obtêm avaliações mais precisas do que nunca. Os estudiosos mostraram que os recifes de coral têm um valor econômico para o mundo de US$ 36 bilhões por ano e são responsáveis por mais de 70 milhões de viagens, “o que faz desses organismos frágeis e belos um poderoso motor de turismo costeiro e marinho“. Tais informações podem ser usadas para incentivar os governos locais a investir mais na preservação dos recifes, por exemplo.
Na Austrália, a Griffith University está usando uma abordagem diferente para estudar os dados para preservação dos recifes. Pesquisadores da universidade fizeram o download de quase 300.000 tuítes postados a partir da Grande Barreira de Coral entre julho de 2016 e de março de 2017. Eles fizeram a seleção de 13.344 tuítes potencialmente úteis usando palavras-chave relevantes, tais como “peixe”, “coral”, “tartaruga” ou “clareamento”. Desses tuítes, 61% tinham coordenadas geográficas que permitiam aos pesquisadores identificar a localização dos turistas e atribuir as opiniões deles às condições de recifes em áreas específicas. Eles foram capazes de descobrir padrões, tais como preocupação sobre a preservação de peixes-boi.
Além disso, os benefícios da era digital não são somente para os animais selvagens. Lançado em 2016, o TraffickCam é um aplicativo móvel gratuito que permite a qualquer pessoa em um quarto de hotel compartilhar anonimamente uma fotografia para um banco de dados central. Como os traficantes de sexo muitas vezes postam fotos de suas vítimas em quartos de hotel como forma de publicidade online, o TraffickCam é capaz de confrontar os padrões do carpete, móveis, acessórios de quarto e vistas da janela de tais anúncios com o banco de imagens do viajante e fornecer à polícia uma lista de potenciais hotéis de onde a foto pode ter sido tirada.
Eu poderia continuar com muitos mais exemplos, contando histórias sobre apps de compartilhamento de fotos de monitoramento de borboletas, de cães selvagens africanos, até mesmo de doenças em árvore. Poderia tratar de como atualmente o Instagram envia avisos para seus usuários quando eles compartilham fotos com espécies animais que podem estar em situação que configura abuso.
Também poderia ter escrito um artigo muito diferente. Eu poderia ter discutido como um feriado, um tempo longe do trabalho, muitas vezes sem conexões wi-fi, resulta em uma oportunidade para reavaliar e reequilibrar a nossa crescente dependência de certos dispositivos. Na verdade, dois dos meus blogues mais recentes para este site falam a respeito dos desafios da conectividade digital onipresente para aqueles de nós que tentam transformar o turismo objetivando a reconexão com o mundo em um nível mais profundo.
Esse continua sendo meu foco principal. Acima de tudo, o turismo deve ajudar as pessoas a se conectarem diretamente umas com as outras e com a natureza, e não através de seus telefones. Mas não vamos nos enganar, sabemos que a maioria dos turistas vão tirar fotos durante as férias e compartilhá-las online. Então, assim como a economia circular nos ensina que a natureza não conhece desperdício, precisamos também usar essa abordagem para tratar esse volume cada vez maior de dados.