Caçando tesouros nas periferias de regiões metropolitanas: o caso da ‘Baixada Verde’

Caçando tesouros nas periferias de regiões metropolitanas: o caso da ‘Baixada Verde’
Pista de Voo Livre (Japeri)
Foto: Observatório Baixada Verde

Turismo na Baixada? Isso é possível?

Questionamentos como estes sempre são feitos quando falamos sobre a possibilidade de um passeio turístico ou do desenvolvimento do setor na região conhecida como Baixada Fluminense, que compreende 13 municípios localizados na vertente oeste da Região Metropolitana da cidade do Rio de Janeiro.  

Este território, localizado no entorno da capital fluminense (a cidade do Rio de Janeiro), uma das cidades mais visitadas por turistas no país e América do Sul, é uma região populosa e com forte estigma relacionado à pobreza e à violência. 

A imagem dessa região, com o tempo, passou a ser associada a expressões como:“terra sem lei”, “terra em que até galinha cisca pra trás”, “faroeste fluminense”, e atéo “formigueiro das Américas”, este último relacionado a um dos municípios com maior densidade populacional da América.

Mesmo diante deste cenário,em que pese o estigma negativo e com imagens de degradação socioespacial que a Baixada Fluminense traz consigo, um grupo formado por gestores públicos de 10 dos municípios da região, incentivado pela Secretaria Estadual de Turismo (SETUR), identificou que é possível sonhar, planejar e concretizar aquele espaço como um território turístico.

Caçando tesouros nas periferias de regiões metropolitanas: o caso da ‘Baixada Verde’
Praia da Piedade_ Magé
Foto: Observatório Baixada Verde

Em  2017, a então Região ‘Turística Baixada Fluminense’ passou a ser chamada de ‘Região Turística Baixada Verde’, a partir de uma iniciativa da SETUR, que após pesquisas constatou que a Região Metropolitana da cidade do Rio de Janeiro mantém 36,27% de seu território verde conservado, e que, deste total, 10,96%, cerca de um terço, estão localizados nos 13 municípios que integram a Baixada Fluminense. A partir, de então, novos olhares surgem sobre a região, e a Baixada Fluminense é inserida oficialmente em estratégicas política-organizacionais do estado do Rio de Janeiro tendo o turismo como mais uma alternativa para o desenvolvimento local e regional.

Desta forma, o “Verde” torna-se o valor da sua nova imagem. 

Dos 13 municípios da Baixada Fluminense, somente 10 (destacados no mapa abaixo) fazem parte da Região Turística Baixada Verde.

Caçando tesouros nas periferias de regiões metropolitanas: o caso da ‘Baixada Verde’

Os outros 3 municípios da Baixada Fluminense participam de outras Regiões Turísticas. Itaguaí, em função da localização e características geográfica e históricas, faz parte da região turística denominada Costa Verde; Guapimirim da região Serra Verde Imperial; e Paracambi da região Vale do Café. 

Os 10 municípios da Baixada Verde, organizados por meio do Conselho de Turismo da BaixadaVerde, uma instância de governança regional, vêm alcançando algumas conquistas, desde sua idealização em 2017. 

Um dos exemplos, foi o lançamento do ‘Plano Estratégico da Região Turística Baixada Verde’, com apoio do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Estado do Rio de Janeiro (SEBRAE/RJ), elaborado em novembro de 2017 e lançado oficialmente em fevereiro de 2018.

A atuação dos gestores municipais da área de turismo dos referidos municípios levou à consolidação de uma região turística com grandes aprendizados, bem como à construção de expertises que já são reaplicados para demais regiões turísticas do estado do Rio de Janeiro já consolidadas.

 A este processo se agregou o ‘Observatório de Turismo e Lazer da Região Turística da Baixada Verde’, criado por um grupo de professores do Curso de Turismo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRural), do campus Nova Iguaçu.

Caçando tesouros nas periferias de regiões metropolitanas: o caso da ‘Baixada Verde’
Foto: Observatório Baixada Verde

O curso de Turismo com a sua equipe de alunos iniciou o processo de “caça aos tesouros na Baixada Verde”. O resultado dessa “caça aos tesouros” fora do comum, criou a base para a criação de inventários da oferta turística, atualmente em fase de elaboração. 

Tudo isso auxilia na revelação e divulgação de uma riqueza, que há anos se encontra abandonada e ofuscada por imagem negativa, bem como publicações e iniciativas vem sendo apresentadas em revistas e eventos no Brasil e no exterior. 

Após 3 anos de trabalhos intensos, a Baixada Verde ainda não se destaca no cenário do turismo regional e nacional como um destino turístico consolidado- pois este é um processo de longo prazo, porém se revelam alguns resultados sobre a mudança de imagem da região que são animadores. 

A nova visibilidade mediática, é um exemplo disso. Ao realizar uma pesquisa em qualquer site de busca, utilizando-se o termo ‘Baixada Verde’, já é possível encontrar uma nova imagem da Baixada Fluminense: fotos e notícias sobre os trabalhos de pesquisa realizados pelo Observatório de Turismo de Lazer da UFRural, as áreas naturais, as opções de lazer, o patrimônio histórico e sobre projetos sociais de relevância, dentre outras características que não se relacionam aos estigmas de pobreza, violência e degradação socioambiental encontrados com o termo Baixada Fluminense.

Temos aqui um outro exemplo concreto de como o turismo e o lazer podem tornar-se ferramentas de desenvolvimento, que possibilitem dar um dinamismo econômico local e regional.

É importante destacar que a decisão de mudança de paradigma, ou seja, abandonar os estigmas da ‘Baixada Fluminense’ e focar nas potencialidadesdaBaixada Verde’, não é algo simples, e envolve inúmeras questões que, claramente, vão além de uma mera estratégia de marketing. 

Vários são os aspectos que precisam ser considerados: a preservação e conservação ambiental e patrimônios histórico-culturais; a qualificação de espaços para lazer de moradores e visitantes; a melhoria nas paisagens naturais e urbanas; incentivo à produção artesanal; entre outros.

Com o fomento da Baixada Verde foi dado o pontapé inicial em um projeto que requer uma gestão compartilhada de políticas públicas de médio a longo prazo que extrapola os limites municipais, demanda vontade política, sensibilização e envolvimento da população. 

Mas tudo pode partir de um novo convite inspirador:

Bem-vindos à Baixada Verde!!!!!

Teresa Cristina de Miranda Mendonça
Bacharel em Turismo, mestre em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social e doutora em Ciências Sociais. Professora associada no curso de turismo da Universidade Federa Rural do Rio de Janeiro (UFRural).

Maria Angélica Maciel Costa
Bacharel em Turismo, com especialização em Educação Ambiental e Recursos Hídricos, mestrado em Geografia e doutorado em Planejamento Urbano e Regional. Professora adjunta do curso de Turismo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRural).

Isabela de Fátima Fogaça
Bacharel em Turismo e Licenciada em Geografia, mestre em Turismo e Hotelaria e doutora em Geografia. Professora Associada dos cursos de Turismo e no Programa de Pós-Graduação em Patrimônio Cultura e Sociedade da UFRural.

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